"A implosão das igrejas é outro passo certo dado em direção a um estado social que não desperdiça. O reino da Igreja não é deste mundo. E, se ao mundo não pertence, nele não se deve edificar. Plantar raízes. A fé não nasce de um edifício nem se desenvolve nos volumes da arquitetura. É insensato ocupar desnecessariamente metros quadrados públicos com tais pretextos metafísicos. Metros que, usados de forma racional, podem ser rentabilizados noutras matérias. Pois, se existe a fé, e ela se mostra consistente perante a adversidade, então que Deus e o seu séquito ocupem apenas a carne daquele que nele acredita. E não em território da causa pública. A casa de Deus só pode ser a cabeça, o coração, as mãos, os pulmões, os rins, os pénis, ânus e vaginas de quem acredita. Fora da carne, Deus perde compostura, ideias e emoção. É pernicioso e um claro sinal de desobediência, já para não falar numa alta arrogância, fundar alicerces metafísicos fora do único templo sagrado; do único templo que pode ser reconhecido como um espaço de fé, que é a carne de quem reza. É chegado o tempo, pois, de fazer implodir todos esses tijolos e frontispícios pretensiosamente divinos."
in "um piano para cavalos altos" Sandro William Junqueira
Sem comentários:
Enviar um comentário