quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.

Milan Kundera, in "A Imortalidade"

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os teus olhos reflectem o anoitecer
São espelhos de dores foragidas
São silhuetas de um profundo crer
E de um querer mais forte do que tempestades desavindas

Os teus olhos são cristalinos
Ofuscam os brilhos demais
Inspiram gloriosos hinos
Empalidecem os corpos celestiais.

Quando se cruzam com o meu olhar soturno, floresce um desejo sobrehumano de lhes tocar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sinto que sonho os sonhos de outros Homens.
Sinto que escrevo os poemas de outros poetas.
Sinto que trilho caminhos esculpidos pela Lua para outros percorrerem.

Em tempos e espaços distantes estou eu.
Talvez seja a nuvem negra que me fustiga com chuva pesada,
Talvez seja o cruzamento onde viro para onde não era suposto.

Acredito em atalhos...
Em meios que justificam os fins.
Em sonhar o que apenas o que estava vedado, apesar de na democracia dos sonhos as fronteiras teoricamente estarem abertas, são sempre patrulhadas pelas milícias do pensamento.

Mas eu continuo a sentir.
Continuo a sonhar... a pensar...
Continuo a escrever palavras que se articulam entre si e formam desenhos abstractos de liberdades inatingíveis para os olhos nús.

Quem és tu?
Quem sou eu?
Somos ambos um emaranhado de dúvidas e de uma certeza inabalável: Eu sou tu e etu és eu...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Hoje tenho para te oferecer miragens do que posso ser.
Alucinações insanas de uma aparente normalidade.
Sonetos sem rimas mas que guardam em si toda a melodia.
Ofereço-te uma vida trajada de melancolia, mas que no seu intimo irradia um brilho ofuscante no olhar.
Perguntar-me-ás se as miragens são verdadeiras.
Mas apenas tu podes dizer o que é a verdade.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pensei nisto recentemente, mas quem sou eu para o verbalizar?

"Apenas se deveriam ler os livros que nos picam e que nos mordem. Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para quê lê-lo? "

Franz Kafka

E ao anoitecer

E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência, o amor, o abandono das palavras,
o silêncio
e a difícil arte da melancolia.

Al Berto
Para quem devo enviar as palavras que não escrevi?
Quero concluir um capítulo que não sei como começa e muito menos como terminará.
E se eu pudesse escrever em ti?
Escrever por todo o teu corpo as palavras que não consigo dizer porque elas não se formaram ainda na minha mente.
Talvez, ao ver a tua pele como página em branco ávida por receber as minhas palavras, elas jorrem de mim...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"O desespero é a matéria-prima de uma mudança drástica. Somente aqueles que podem deixar para trás tudo o que acreditam podem escapar."



William S. Burroughs.
Um dos maiores e tresloucados escritores norte-americanos. O nome pode não ser muito familiar, mas muita gente já ouviu falar do "Festim Nú" de David Cronenberg. A adaptação cinematográfica não do romance de Burroughs, porque, sinceramente, ninguém conseguiria fazer um filme com este livro de tão caótico, mas sim da própria vida e toda a obra de Burroughs.
O citado "Naked Lunch", "Junky", "Queer" e "Interzone" são os devaneios de Burroughs que tive o privilégio de ler e que me levaram em viagens alucinatórias e dopantes pela realidade que Burroughs via através das névoas da intoxicação auto-induzida.
Junto com Aldous Huxley foi um pioneiro. Escreveram grandes odes ao consumo de drogas e descobriram um novo uso para a noz-moscada, especiaria tão vulgar e usada em muitas casas, pela qual sou completamente viciado. Claro que esta parte foi um pouco assustadora...

Fica aqui um pequeno tributo a esta inflamada mente quando passam exactamente 97 anos e dois dias sobre o seu nascimento.

"Depois de um breve olhar a este planeta, qualquer visitante exterior exigiria ver o gerente."

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Das sombras chegam as absolvições...
Das sombras chega a luz desaparecida...
Das sombras chega a verdade desaparecida em tudo o que foi ouvido...
Das sombras chega a nega do céu...
Das sombras chego eu... e chegas tu...

Faz doer os olhos a claridade.
Faz doer a carne a verdade.
Eu faço doer a tua alma
Enquanto tu observas eu a cortar a minha com toda a calma...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Uma bela balada...

As melhores baladas sempre foram e serão compostas por bandas de metal.
Fica aqui uma pequena e enorme balada cheia de amor.
Uma declaração de amor .... a Satanás pelos satánicos elegantes Akercocke.

"Thinking of words
To describe you
No one can know
How much I trust you
Calling Satan
Master of dark deeds

Discarding the mask
Riddled with shame
I'm taking the task
Worthy to your name

Now I request you
To follow my every move
The more I take from you
The stronger I become

Satan
Master..."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Foge, foge...

Espero por ti no cruzamento entre a demência e a sanidade. As duas ruas parecem-me exactamente iguais. As casas são iguais, nas janelas estão flores murchas que o vento faz as suas pétalas dançarem com os cortinados distraídos e ausentes que onduleiam tranquilamente. Não existem portas. Estamos sempre convidados a entrar e sentarmo-nos à mesa onde nos servem manjares de divagações regados com um bom vinho amnésico de desilusões.
Fico sempre na dúvida se estarei na rua certa. Volto constantemente para trás para ver a placa indicatória. Depois mergulho na incerteza de em qual quero estar, já que as ruas parecem uma continuação separadas apenas por nomes diferentes.

Estou à tua espera e tu decidirás para qual iremos.