terça-feira, 30 de novembro de 2010


Exactamente há 75 anos, deixou a vivência carnal o(s) mais sublime(s) sonhador(es); Fernando Pessoa e todas as suas encarnações, deambulações, alucinações e rebeliões.
Deixou um legado irrepetível e nele viverá eternamente. A simples declamação do mais singelo verso de sua autoria é mais um passo para a sua imortalidade.
Alguém que em tão pouco dizia tanto, Pessoa destaca-se de todo o universo literário como o mais completo poeta de sempre.
Pequeno e reduzido tributo aqui fica num poema curtíssimo mas com o mundo dentro dele.

"Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim."

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A glória da guerra ainda se faz ouvir por entre os breves sopros de pacíficos lamentos sobre putrefactos intentos.
Ela parece dormente, soterrada por ruínas de monumentos bélicos erguidos em nome de deuses ausentes.
O seu rugir, som dantesco, cujos decibéis eram audíveis nas mais extremas frequências, parece agora um suave bramir de rebanhos que aguardam o seu pastor perdido por entre vegetações de alucinações.
Ecoou em vales agora desertos outrora pulsantes de vida.
O projéctil de um determinado momento ficou alojado no cérebro bloqueando a entrada de novas declarações bélicas.
Tudo parece apenas uma miragem agora que ele olha para o que escreveram e proclamaram que fez.
Não vislumbra qualquer reconhecimento em tais faustosas acções cujo crédito aparentemente é só seu.
Este velho general, quiçá monarca de reinos desconhecidos e ainda não proclamados, estende o seu olhar por todas as ilusões onde ergueu paióis vazios de munições e pensa no sentido para o uso de metafóricas armas brandidas e recolhe aos seus aposentos situados algures fora de si onde analisa os mapas do que foi conquistado.
A que custo? pergunta-se.
A guerra edificou o meu império, mas ao mesmo tempo fui a sua única vítima.
Guerra não desejada e não proclamada levou-me e substituiu-me por esta alma sem alma.
penso, que talvez, a opressão seja necessária para nos sentirmos vivos...

domingo, 28 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Qualquer dia ergo um monumento à escuridão e devassidão.
Um monumento que eclipsará a torre de Babel.
Este monumento conseguirá tocar os céus e quem o escalar até ao topo poderá sentir a respiração ofegante de deus.
E o meu respirar será uma metáfora de tornados e ciclones pacifícos...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Causa confusão esta minha quietude
parece ser estranha virtude.
Estou quieto enquanto a vida tatua por todo o meu corpo palavras de alento.

domingo, 21 de novembro de 2010

Crónica de fim de semana moderadamente alcoólico...

Sábado 19h e 30m.
É a hora de arrancar para Braga com mais dois amigos para mais um daqueles festivais que se auto intitulam como sendo "Culto à Morte."
Mais umas boas dezenas de quilómetros para ver bandas ao vivo! Podem-me acusar de tudo, excepto de não ser leal à musica. Mais 10 euros para o bilhete, mais 5 para gasóleo e portagens e mais uns quantos euros para beber cerveja. A "festa" ameaçava tornar-se cara e a vontade de ir agora a concertos de metal já é mesmo muito reduzida. Estava a ser um acumular de factos evidentes de que não iria gostar muito da noite...

Braga, 21h00.
Estacionada a viatura, é hora de atacar o arsenal de cerveja do café ao lado do local do concerto.
Supostamente os concertos começam ás 22 horas e agora as organizações primam por cumprir horários o que é excelente tendo em conta que já cheguei a esperar 5 horas pelo inicio de um concerto.
Meia dúzia de morcegos deambulam pelo tasco da aldeia mostrando as suas novas camisolas de supostas bandas "true". Irritam-me estes tipos porque eu já fui assim também. Só mesmo por isso.
Estou cansado, nem sequer estou grande falador. Concentro-me no jogo de futebol que está a dar na televisão tentando que a minha mente fique ocupada com futilidades como golos do Cristiano Ronaldo e o Mourinho com cara de mau. Este sim tem todo o aspecto de ser metaleiro, pois está sempre com cara de zangado com o mundo.
Bebo umas quantas e apercebo-me de que não jantei, por mero esquecimento. Eu sou assim, muito distraído.

Começam as bandas a tocar talvez no intervalo entre a minha quinta ou sexta cerveja. As duas primeiras não me aquecem um pouquinho que seja.
A seguir toca Dolentia, banda que não conhecia e que deu um concerto demasiado bom para ser verdade. Não sou daqueles que só gosta de bandas estrangeiras, muito pelo contrario, mas não é comum encontrar tanta qualidade no black metal português. Já fiquei mais animadito, claro que as frescas também ajudaram...
O ambiente no concerto roçava o desprezível. O metal está completamente elitista. Só grupinhos de pessoas isoladas enquanto que não há muito toda a gente falava entre si.
Sobe ao palco a banda que motivou a minha vinda a terras minhotas, Inverno Eterno. São uma das bandas mais originais que conheci. Aliam a agressividade e a melancolia em dosagem simplesmente perfeita. As letras não são estúpidas como quase todas as de metal. Assentam na solidão, misantropia, esquizofrenia e numa desolação total. Em suma algo que eu gosto de ler. Ah e percebe-se perfeitamente o que o vocalista canta. Mais um ponto a favor.
Só que a catástrofe aconteceu. Depois de um concerto excelente no Porto, este foi simplesmente abominável.
Parecia que estávamos num funeral tal era o silêncio reinante na sala. A queda de uma garrafa provocou o mesmo efeito que um ataque nuclear. Viraram-se os olhos inquisidores à procura do profanador de tão sublime silêncio. Give me a break.
Entrei em fase de neura total e estive sempre a beber até ao fim do concerto. Estava triste, podemos dizer, por ver ao que o metal chegou. Já não dá vontade de lutar por esta causa perdida. As novas gerações distorceram o que o metal supostamente representava, portanto, ontem despedi-me deste tipo de concertos. Já não me identifico com nada do que vejo. Talvez tenha amadurecido, talvez esteja apenas a ser esquisito, não sei. A única coisa que sei é que não me sinto à vontade nestes ambientes que sempre foram o meu habitat.
Um fim de semana de despedida para o meu estilo favorito de música. Foi bom enquanto durou.

Fica aqui uma musica de Inverno Eterno. É uma grande banda...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Certo dia acordei demagogo.
Certo dia quis brincar com o fogo.
Certo dia não chegou a ser dia.
certo dia não quis escrever poesia.

Incerto momento em que me libertei.
Incerto momento onde nada declamei.
Incerto é o antónimo de certo.
Incerto é o pensamento correcto.

E eu sou a certeza da incerteza
A contradição da beleza
E a fuga da tristeza...