sexta-feira, 31 de julho de 2009

Criações de papel afogadas em tintas subtis.
Voo nocturno de almas em sufoco
Palavra que esconde o que realmente diz.
Pelo sossego anseia apenas um pouco.

Desenhos esculpidos no crepúsculo
Cravados na noite, bem no seu seio
O coração não é apenas um músculo
Não é só sangue que corre no seu meio.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Encontram-se dois amigos que já não se viam há muito tempo. A recordação que ambos tinham um do outro desse ultimo encontro era uma névoa espessa na qual reconheciam apenas particulas dos seus seres.



Amigo 1- Então caralho? Que é feito de ti?

Amigo 2- É um circundar de espirais de dor que me tornaram algo diferente do que antes fui.

Amigo 1- Vai-te foder com os discursos filosóficos.

Esgares de dor não conseguem mudar rostos nem corações e muito menos almas.



Amigo 2- Poder-se-ia discutir eternamente o quão necessária será a dor para o crescimento pessoal e a fomentação da vontade de viver.

Amigo 1- Quando se sente dor é o maior sinal de que se existe. Não podemos considerar dor, por exemplo, a sede? procuras anular essa dor bebendo, como eu vou fazer agora com esta cerveja fresquinha. AAAAAHHHHHHH. Tão boa!!! Mesmo no ponto...

Amigo 2-Então depois de se anular a dor deixámos de existir? Quando a cerveja acaba e a sede está saciada. A dor findou e nós deixamos de existir?

Amigo 1- Muito pelo contrário. Acaba a cerveja, arrotas e fumas um cigarro. Sabias que tinhas aquela dor e sentias-te angustiado para a anular. Dor que te consumia e agora que a anulaste sentes paz e pensas na dor passada e no presente como algo que te fez saborear por completo o que é viver.

Amigo 2- Então quem não tem qualquer espécie de dor e, consequentemente, não tem que a anular, não existe?

Amigo 1- Todos os seres são atormentados por dores em várias fases da vida. Quando ultrapassadas vive-se em paz, se bem que temporária. Pode perder-se a capacidade de dar valor às mais pequenas coisas, mas não se perde a existência. Aprecia-se e goza-se...

Amigo 2- Simplesmente acho que tenho uma sede insaciável. Não existe cerveja em abundancia para matar a minha sede.

Amigo 1- Compreendo. Se a tua sede é insaciavel tens que beber uma cerveja de cada vez. Não podes beber várias de uma só vez. Bebes uma e, por muito grande que seja a tua sede, ela adormece um pouco e aí já consegues saborear um cigarro.

Despedem-se pouco depois. Um com a sua sede física saciada. O outro com a sua sede mental por saciar. O segundo amigo pede mais uma cerveja...

terça-feira, 28 de julho de 2009

"Estou sujo. Corroído pelos piolhos. Os porcos olham para mim e vomitam..."
Cantos de Maldoror ou então Mão Morta, como preferirem...

Tal como subitamente o ceu de repente transforma o sol em chuva dissolvente, sou assolado por insónias brutais que desaparecem com a mesma facilidade como apareceram.

Talvez numa semana só tenha dormido duas noites. Não sei...

O relógio avança sorrateiramente. Segundos parecem horas e horas parecem milésimos de segundo. Perdi toda e qualquer noção do que é o tempo. Sei que existe um horário sagrado para cumprir para os demais, mas eu é como se estivesse num outro espaço temporal onde não esxiste nem dia nem noite. Apenas fragmentos de luz e de escuridão.

No seio do meu periodo aureo de insanidade médica, conheci alguém que tinha perdido a capacidade de dormir. Na altura fazia 3 meses em que tinha fechado os olhos pela ultima vez. Tinha o aspecto mais fresco e descansado do mundo. Eu estava completamente possuido por calmantes e soporíferos de toda a espécie, mais parecendo um fantasma do que anteriromente tinha sido. Lembro de partes de conversas que mantivemos. Essa pessoa acreditava que o seu corpo se recusava a dormir com o receio de perder algo de estupendo que lhe viria mudar a vida por completo e que poderia chegar a qualquer instante. Tinha a convicção que algo o procurava sem o encontrar.

Talvez eu procure algo, porque sei que nada me procura. Resta-me identificar exactamente o que procuro agora que a lucidez aparenta estar em mim.

Não sou nenhuma mente brilhante à qual surgirá a ideia de terminar com algum flagelo que assola a humanidade. O tempo de me preocupar com o curso da humanidade já foi levado com a maré. A humanidade também não se preocupa com o meu curso... Digámos que é uma indiferença reciproca.

Não posso inverter o curso do relógio, resta-me apenas olha-lo como um analfabeto olha para um livro porque o não consigo entender

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Estás sepultada...
Sempre pensei que quando chegasse a hora de te enterrar escolheria um sítio ídilico para o fazer. Algum local que fosse de extremo significado para mim. Algures entre as mais belas flores e arvores de frutos. Uma localização onde regressaria para te visitar e conversar contigo.
Mas não... A escolha recaiu por um lugar desolador, de impossível acesso e onde jamais conseguirei voltar. Não tens flores à tua volta, mas sim apenas o nada.
Não chorei como esperava fazer. Não senti absolutamente nada a não ser desprezo.
Enquanto escavava a tua sepultura não apareceram boas recordações para me impedir de continuar a escavação.
Depositei o teu corpo completamente absorto e vazio. Cobri-te com as pazadas repletas de terra árida, impossível de se criar alguma vegetação.
Completamente imersa pela paisagem desoladora a tua sepultura desapareceu imediatamente como se não tivesse sequer existido.
Permaneci alguns minutos procurando alguma emoção que viesse chocar comigo, mas ela não compareceu. Então vi as flores do ódio e da maldade a nascer no meio desta imensidão de vazio.
Sei agora onde estás. As flores cresceram monstruosamente em tão pouco tempo.
Foi a confirmação do que suspeitava. A maldade floresceu dentro de ti durante tanto tempo e agora mesmo sem haver possibilidade fisica para neste local se criarem, a maldade floresce na terra.
Assim te deixo, sepultada no meio da tua maldade.
Adeus. Até nunca mais...

Perdem-se os numeros das palavras que foram contadas e narradas na esperança de fazer desaparecer os receios e dores momentáneas de quem me é próximo.

Envredei por uma cruzada de combate a tudo o que é nocivo para o pensamento.

Não quero a extinção de outros credos e dos supostos infíeis como era o objectivo das cruzadas originais.

Apenas desejo extinguir os males que vos afectam, se não o conseguir então canaliza-los-ei para mim.

Talvez eu seja a reencarnação de cristo, que supostamente morreu para salvar a humanidade.

Não ando sobre a água, nem estou pregado a nenhuma cruz. Mas talvez seja um carregador de cruzes profissional. Carregarei as cruzes de quem gosto para não terem de sofrer.

Não direi para deixarem vir a mim as criançinhas porque a minha orientação sexual não vai para esses caminhos tortuosos. Direi apenas para deixarem vir a mim todos os flagelos, que eu ja estou preparado para os suportar.

domingo, 26 de julho de 2009