domingo, 28 de fevereiro de 2010

Crónica de um noite de copos.

5 da manhã e dou comigo sentado no local mais sombrio do Armazém do chã. Numa mão uma cerveja e na outra um cigarro. Se me erguessem uma estátua, esses dois elementos teriam que estar incluidos obrigatóriamente. Não me lembro o como, o porquê e o para quê de eu estar aqui. Lembro-me vagamente de dizer que hoje não iria sair à noite...
Mas é tudo muito confuso como se eu estivesse envolto numa neblina muito densa que não consigo ver nem para a frente nem para trás.
O álcool acentua exacerbadamente toda a solidão que carrego dentro de mim. Reconheço algumas pessoas que cruzam o meu campo de visão e algumas cumprimentam-me efusivamente, mas eu sinto-me cada vez mais sózinho. Refugio-me mais uma vez em pelavras escritas. Sinto-me só, mas também não tenho vontade de falar com alguém.
A música, rock n roll dos anos 70, já me começa a irritar. Passei para outra sala onde só se ouve musica electrónica e, obviamente, tem mais gente. Encontro sempre um cantinho para me sentar e continuar a minha escrita e divagações mentais enquanto as batidas estridentes produzem na minha cabeça o mesmo efeito que um martelo pneumático faria.
O que ando aqui a fazer? Pergunto-me sempre isso mas no sentido mais vasto da questão. Agora queria mesmo saber como vim aqui parar a este local em concreto.
Gosto de observar as pessoas quando saio à noite. Um estranho voyeurismo este! Analiso os sorrisos das pessoas. Se eles são honestos ou se são apenas um acessório que combina com a roupa nova e demasiadamente cara que vestem.
Alguém crava-me um cigarro e lança duas ou três palavras para o ar mas eu deixo-as esvanecerem-se. Fiquei absorto em relidades alternativas enquanto alguém falava comigo.
Já não consigo estar mais aqui. Tenho que sair... Urgentemente!!!! A claustrofobia apodera-se de mim a uma velocidade galopante e assustadora.

Rua!!!! Ar puro ainda que extremamente frio! Fico aqui sentado um pouco enquanto assisto a dialogos de alcoolizados como eu apenas com a diferença de que conseguem falar. Tento ordenar as ideias nesta desorganização que é a minha mente. Já sei como vim aqui parar e com quem. Congratulo-me de não ter vindo a conduzir!!! A multa de 500 euros em 2008 serviu de lição!!! Tenho que ir para casa mas não sei das pessoas com quem vim. Perderam-se algures na sua ânsia de conhecer o maior numero de pessoas possiveis numa noite. Como se estivessem a concorrer para o Guiness!

Estação de S.Bento! Felizmente já há comboios a esta hora. Posso ir embora e logo vejo como vou buscar o carro.
As pessoas que me trouxeram lembram-se da minha existência! Querem ir embora. Ok vou ter com eles. A meio do caminho lembraram-se que querem beber um ultimo copo. 9 euros de entrada????!!!! Fuck off! Para desempregados andam a puxar bem de dinheiro estes tipos! Fico na rua à espera que eles se decidam.
Entretanto, um índividuo é espancado selváticamente à minha frente por um dos seguranças do bar sem razão aparente. Ficou em estado muito mau mesmo! A polícia chega 5 minutos depois. O indíviduo pergunta-me se posso contar à policia o que vi. Claro que o faço com todo o gosto. Odeio esta forma de repressão através da violência!
Depois da policia e ambulancia irem-se embora sou ladeado por 4 brutamontes que sairam do bar que me perguntam o que disse à policia. Se eu nem aos meus pais digo o que faço ou deixo de fazer quanto mais a estes gorilas cujos musculos cerebrais passaram para os peitorais e biceps!
Sou ameaçado que nunca mais poderei entrar no bar. Óptimo! Nunca o fiz nem o farei. Dá para poupar uns trocos. E chega a minha boleia... Para casa dormir! Sózinho, como sempre... Não, hoje vou dormir com a minha dor de alma.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Semper fidelis?

O que é a fidelidade?
Algo inócuo e desaparecido
Que caiu na fealdade.
É algo aparentemente temido
Sempre ausente de verdade
Um acto para sempre perdido.

É uma palavra sem sentido
Que pelas pessoas foi retirado
É o deixar o amor vaguear perdido
Sem esperanças de ser encontrado
É o deixar o corpo ser vencido
Na luta entre o certo e o errado.

A sua ausência
Abre feridas infinitas
Jamais curadas pela ciência
Entre emoções malditas
Perde-se toda a essência
De todas as odes já escritas

Doí mais do que qualquer golpear
Abre sulcos abismais
Não jorra sangue mas sim o amar
Que ameaça voltar jamais
Com a mesma vontade de dar
Perecem os sentimentos chamados imortais

O que é ser fiel?
É um acto demasiado altruísta
São palavras que não se escrevem num papel
Irrelevantes para o ser egoista
Determinado a viver em fel
Ausente de qualquer sentido moralista

Fidelidade rima com ingenuidade
Palavras siamesas
Rápidamente tornam-se adversidade
Estão agregadas como rezas
Repletas de verdade
E das mais duras tragédias.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Depois das fotos, um vídeo...

Estará alguém lá fora
No seio da tempestade
Para dizer que chegou a hora
Da rendição da verdade?

Estarão ao vento caóticas almas
Hasteando da paz as bandeiras
Perdidas nas águas calmas
Mas forjadas como verdadeiras?

Estarão nas sombras os vultos
Que brindam em meu nome
Por entre todos os insultos
Que não lhes mata a fome?

Serão eles trovadores
De feitos imemoriais
Ou apenas de desamores
Perdidos nos canaviais?

Está sempre alguém à espreita
Com forma ou disforme
Fazendo vigilância estreita
Sem saber o meu nome

Quem me espera nos elementos
Não é nunca quem desejo
Talvez sejam os preconceitos
Que nunca provarão um beijo

Tudo parece uma conspiração
Construida por sombrios rumores
De ausência ou excesso de paixão
Presente em todos os clamores.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ouvi dizer...
Parábolas do que não posso crer

Ouvi dizer...
Lendas da falta de querer

Ouvi dizer...
O que foi não volta a ser

Ouvi dizer...
As palavras que não gosto de dizer

Ouvi dizer...
O significado do ser

Ouvi dizer...
Quão belo é o sofrer

Ouvi dizer...
Por entre os destroços ocorre o renascer

Ouvi dizer...
Que a vida termina com o morrer

Ouvi dizer...

Ouvi dizer...
Todas as letras que nunca irei escrever


Oiço dizer tanta coisa cujo significado permanece no vasto campo da ambiguidade. O sentido foi destítuido.
Para os que percebem todo o complexo sentido das palavras, a busca do conhecimento, reveste-se de cada vez mais importância para contradizer tudo o que é deixado no ar como dogmas universais.
Benaventurados sejam eles!!!!
A luta é desigual e a vitória jamais será reconhecida, mas ela, não o sendo é ainda mais gloriosa...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Para quê chorar?
As lágrimas não lavam a raiva.
Lenta e suavemente, a tristeza cumprimenta e senta-se a teu lado na sala vazia deste teatro onde interpretas todas as personagens que és, foste e serás.
Não existe guião nesta peça tão surreal que parece mesmo fictícia.
Não está ninguém no ponto para te recordar as falas que nínguem escreveu.
Os dialogos fluem arbitráriamente entre todas as personagens com características fincadas de monólogos. As perguntas, envoltas em sentimento no seu estado ainda por delapidar, ecoam nesta sala vazia e voltam a ti sem resposta e amplificadas vezes sem conta. Personagens olham-se mutuamente em desdém reconhecendo-se nas diferenças.
Medos encarnados debitam recitais de impropérios e são aplaudidos por ti em ovação desmedida e desnecessária.
Ao teu lado, a tristeza, rejubila por todas as personagens multiplicadas que fazem não vênias, mas gestos ofensivos para ti enquanto aplaudes tão miseráveis e grotescos desempenhos.
Amas e odeias cada uma dessas personagens com fervor similar.
Ver o que és como mero espectador é doloroso. Dor pungente que dilacera as artérias onde o sangue gelou pela acção gelada das lágrimas.
Findou a peça que és tu. O silêncio toma conta do palco que é o teu corpo...