segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Para quê chorar?
As lágrimas não lavam a raiva.
Lenta e suavemente, a tristeza cumprimenta e senta-se a teu lado na sala vazia deste teatro onde interpretas todas as personagens que és, foste e serás.
Não existe guião nesta peça tão surreal que parece mesmo fictícia.
Não está ninguém no ponto para te recordar as falas que nínguem escreveu.
Os dialogos fluem arbitráriamente entre todas as personagens com características fincadas de monólogos. As perguntas, envoltas em sentimento no seu estado ainda por delapidar, ecoam nesta sala vazia e voltam a ti sem resposta e amplificadas vezes sem conta. Personagens olham-se mutuamente em desdém reconhecendo-se nas diferenças.
Medos encarnados debitam recitais de impropérios e são aplaudidos por ti em ovação desmedida e desnecessária.
Ao teu lado, a tristeza, rejubila por todas as personagens multiplicadas que fazem não vênias, mas gestos ofensivos para ti enquanto aplaudes tão miseráveis e grotescos desempenhos.
Amas e odeias cada uma dessas personagens com fervor similar.
Ver o que és como mero espectador é doloroso. Dor pungente que dilacera as artérias onde o sangue gelou pela acção gelada das lágrimas.
Findou a peça que és tu. O silêncio toma conta do palco que é o teu corpo...

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