Na minha mão cabe tudo, basta estendê-la e abri-a e lá entra à medida a ausência.
Sobra espaço ainda para a decadência.
Cabe a vulnerabilidade de não me sentir vulnerável.
O movimento de contracção dos dedos esmaga a solidão. É apenas ilusão de óptica. Os dedos acariciam a solidão.
Eles desenham a moldura onde outros colocam imagens da mais perfeita desolação. Entram em convulsões aterrorizadas perante a visão de outros dedos tentando tocar-lhes.
O contacto humano é apenas uma memória soterrada por entre paredes de desilusões arquitectadas por mãos mais hábeis.
Na palma da minha mão já esteve a tua. Agora está tatuado o olho da sabedoria ou da ignorância, tu decides.
Mão que derrotou a morte e a vontade de lhe pertencer.
Dedos que foram levados pela enxurrada de lágrimas conseguiram agarrar as ilusões que só eu as considero como reais.
A minha mão deseja escrever todas as folhas de papel que existam no mundo. Quando elas acabarem vou continuar a escrever em todos os milimetros do teu corpo.
Sobre quê?- Perguntas tu.
Sobre tudo ou apenas sobre mim, assim serás testemunha viva desta incontrolável vontade de escrever. O teu corpo será pertença das minhas palavras. Não pertencerá a mim pois as palavras quando jorram de mim ganham vida própria e negam a minha autoria.
1 comentário:
Realmente acho normal não haver comentários aqui há já algum tempo. Com os teus textos magnifícos todos os comentários seriam sempre iguais, tipo, Grande texto, muito bem, continua.
O medo é daqueles livros que arrepia quem o lê. E tu tens uma maneira de escrever um pouco semelhante ao falecido Al Berto. Potentoso e directo ao assunto sem medo de chocar alguém. A unica diferença é que gosto mais do que tu escreves. ;)
Beijoka amigo.
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