segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O excesso de informação é sinónimo de nenhuma informação.

Será que o aumento exponencial da informação a nível musical é algo assim tão bom quanto isso?
Por um lado tudo está agora à distancia de um click, de um download, de uma busca que dura centésimos de segundos. Tenho mais música no meu computador do que tempo para a ouvir. Mas há depois o reverso da medalha; com tanta música fácil de encontrar, perdeu-se aquele misticismo todo à volta da música que floresceu em mim quando era adolescente.
Tenho saudades de trocar K7´s com outras pessoas, de estar colado ás emissões de rádio tanto da Antena 3 como das rádios das terrinhas aqui à volta à espera que começassem os programas que passavam musica alternativa, de ouvir uma k7 centenas de vezes até a fita se romper ou já ter entranhado em mim todos os riffs, todas as palavras, todos os pormenores quando gostava muito de um álbum. Tenho saudades de ir ás lojas de discos e olhar apaixonado para os álbuns que queria comprar tentando controlar a baba que ameaçava jorrar da minha boca. Tenho saudades de comprar discos e da parva mas extasiante felicidade que ter um disco na mão provocava. Do cheiro dos livretes dos cds. De ir triunfante ter com os meus amigos e fazê-los roerem-se de inveja porque tinha comprado determinado álbum. Tenho saudades de ir tomar café à noite e passar horas a falar de um álbum ou de uma banda em particular.
Isso perdeu-se com o advento da internet onde tudo é tão fácil de encontrar que até perde a piada. Já ninguém compra newsletters elaboradas por maluquinhos como eu onde se liam entrevistas a bandas que eram perfeitas relíquias. Agora a informação é tanta que não dá para passar uma noite inteira a falar de uma banda. Está tudo tão acessível que toda a gente sabe. Já não se recomendam bandas, emprestam-se cd´s, dvs ou vhs. Parece que o excesso de oferta acaba por tornar as pessoas indiferentes. Já não é preciso lutar pela música. De esperar impacientemente por um concerto de uma banda da qual se conhece apenas meia dúzia de musicas com a esperança de que ao vivo seja o melhor concerto de sempre. De ficar todo contente quando alguém me dizia com os olhos brilhantes que tinha visto um cartaz no Porto que a banda x vinha cá tocar.
Perdeu-se esse mesmo espírito de concerto. O espírito de festa permanente e dos sorrisos rasgados nos rostos quando se estava num concerto de uma banda de que se gosta. Ainda continuo a fazer muitos quilómetros para ver concertos de bandas de que gosto, mas já sei de antemão que vou encontrar um ambiente tão festivo como num funeral. Não sei, mas parece que para muita gente é melhor ver os concertos no youtube... Sinto falta de ser surpreendido pela positiva por bandas que nunca tinha ouvido falar quando as via ao vivo.

Quantas obras-primas da música tenho eu no meu computador que ainda não prestei a devida atenção? Provavelmente umas quantas. Saco discografias completas e depois não as oiço. Mal saco uma já estou à procura de outra. É como se não desse a mínima hipótese a uma banda de me convencer. Quantos álbuns ouvi eu várias vezes só porque à primeira não entravam e acabavam por revelar-se grandes pérolas antes de estarem à distancia de um teclado ou de um rato? Muitíssimos. É neste aspecto a que me refiro de que a música perdeu um pouco o seu misticismo. Há demasiada música aí à solta...
Perguntava a mim mesmo uma grande banda recente... Sei que existem grandes bandas recentes, mas não consigo enumerar nenhuma porque não dou tempo ás bandas de se anicharem no meu cérebro. Grandes bandas só consigo considerar mesmo aquelas que ouvia já quando era puto, isto porque passava horas, dias, semanas a ouvir o(s) mesmo(s)álbum e sentia-me extremamente feliz por essa aparente limitação...
Os tempos mudam, eu sei. Talvez esteja a ficar velho, mas tenho imensas saudades dos tempos em que era difícil encontrar música. Ela parecia perfeita nas suas imperfeições.
Enquanto escrevi isto já ouvi 4 bandas diferentes...
Claro que é óptimo conhecer muitas bandas, mas daí até se conseguir argumentar decentemente uma opinião sobre cada uma delas vai uma grande distância. Conheço muitas bandas, mas é como se não as conhecesse...

1 comentário:

Lady Candlelight disse...

Ah o misticismo!! Identifico-me muito com essa ideia!

Bj