quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O volante de um carro como unica forma de rebeldia...

Detesto conduzir...
Infelizmente tenho que conduzir diariamente e passei boa parte da minha vida de servilismo- perdão: de membro honrado do proletariado- ao volante um pouco por todo o país. Tenho centenas de milhar de quilómetros nos pés e nas mãos, mas nunca gostei de conduzir.
Pegar num carro todos os dias é uma aventura. Nunca sabes o que vai acontecer...
Isto porque os cidadãos cumpridores de todas as regras que a sociedade lhes dita mudam completamente quando têm um volante na mão. É uma metamorfose estupenda...
É como se o seu carro fosse um estado independente, a sua ditadura privada, uma qualquer espécie de imunidade social. Até a mais pacata das criaturas insulta ferozmente o condutor que segue na sua frente, recalca as tais normas do civismo e bom-senso que deveriam servir a uma correcta circulação rodoviária.
As regras aprendidas nas escolas de condução, em dias  são completamente esquecidas. Os sinais de transito transformam-se subitamente em pinturas surrealistas impossíveis de decifrar o seu significado.
Os limites de velocidade... Pois... Existem limites de velocidade!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! São só para os outros.
As mudanças de direcção jamais voltam a ser assinaladas. Nem sei porque as marcas insistem em colocar os "piscas" mesmo por baixo do volante. É que é um esforço sobre-humano esticar um dedo e activar o mecanismo...
"Para quê? Eu sei para onde vou, os outros não precisam de saber..."
Talvez seja por isso que eu dou sempre o pisca, porque nunca sei para onde vou...

Um carro é assim muito mais do que um meio de transporte. É uma forma de rebeldia, de fugir ás leis e ser mau para com os outros condutores, ser egoísta, de ter a ilusão que a estrada é só nossa, de fugir à realidade e inconscientemente-claro- ser anti-social.
É tão fixe buzinar... Reclamar com todos. Desejar a  morte a quem nos ultrapassa.
É a dose de adrenalina que as existências socialmente correctas necessitam diariamente para não sufocarem no seu próprio tédio.
E quanto maior e mais potente for o carro, maior é a rebeldia e a inveja provocada nos outros condutores.
Reparem nas poses altivas com que os donos de Mercedes, Bmw´s e Audis saem dos seus carros. Quando estes avariam e lhes é cedido pelas seguradoras carros como Seats, Peugeots e afins, entram em depressão profunda porque foram reduzidos à banalidade, à normalidade, ao comum condutor e transgressor.

Os carros são um mal necessário à sociedade porque permitem uma ilusão de imunidade total aos seus condutores. Se não canalizassem para a estrada as suas frustrações, o que aconteceria?
Imaginem o numero de assassinos em série...

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