Sábado 19h e 30m.
É a hora de arrancar para Braga com mais dois amigos para mais um daqueles festivais que se auto intitulam como sendo "Culto à Morte."
Mais umas boas dezenas de quilómetros para ver bandas ao vivo! Podem-me acusar de tudo, excepto de não ser leal à musica. Mais 10 euros para o bilhete, mais 5 para gasóleo e portagens e mais uns quantos euros para beber cerveja. A "festa" ameaçava tornar-se cara e a vontade de ir agora a concertos de metal já é mesmo muito reduzida. Estava a ser um acumular de factos evidentes de que não iria gostar muito da noite...
Braga, 21h00.
Estacionada a viatura, é hora de atacar o arsenal de cerveja do café ao lado do local do concerto.
Supostamente os concertos começam ás 22 horas e agora as organizações primam por cumprir horários o que é excelente tendo em conta que já cheguei a esperar 5 horas pelo inicio de um concerto.
Meia dúzia de morcegos deambulam pelo tasco da aldeia mostrando as suas novas camisolas de supostas bandas "true". Irritam-me estes tipos porque eu já fui assim também. Só mesmo por isso.
Estou cansado, nem sequer estou grande falador. Concentro-me no jogo de futebol que está a dar na televisão tentando que a minha mente fique ocupada com futilidades como golos do Cristiano Ronaldo e o Mourinho com cara de mau. Este sim tem todo o aspecto de ser metaleiro, pois está sempre com cara de zangado com o mundo.
Bebo umas quantas e apercebo-me de que não jantei, por mero esquecimento. Eu sou assim, muito distraído.
Começam as bandas a tocar talvez no intervalo entre a minha quinta ou sexta cerveja. As duas primeiras não me aquecem um pouquinho que seja.
A seguir toca Dolentia, banda que não conhecia e que deu um concerto demasiado bom para ser verdade. Não sou daqueles que só gosta de bandas estrangeiras, muito pelo contrario, mas não é comum encontrar tanta qualidade no black metal português. Já fiquei mais animadito, claro que as frescas também ajudaram...
O ambiente no concerto roçava o desprezível. O metal está completamente elitista. Só grupinhos de pessoas isoladas enquanto que não há muito toda a gente falava entre si.
Sobe ao palco a banda que motivou a minha vinda a terras minhotas, Inverno Eterno. São uma das bandas mais originais que conheci. Aliam a agressividade e a melancolia em dosagem simplesmente perfeita. As letras não são estúpidas como quase todas as de metal. Assentam na solidão, misantropia, esquizofrenia e numa desolação total. Em suma algo que eu gosto de ler. Ah e percebe-se perfeitamente o que o vocalista canta. Mais um ponto a favor.
Só que a catástrofe aconteceu. Depois de um concerto excelente no Porto, este foi simplesmente abominável.
Parecia que estávamos num funeral tal era o silêncio reinante na sala. A queda de uma garrafa provocou o mesmo efeito que um ataque nuclear. Viraram-se os olhos inquisidores à procura do profanador de tão sublime silêncio. Give me a break.
Entrei em fase de neura total e estive sempre a beber até ao fim do concerto. Estava triste, podemos dizer, por ver ao que o metal chegou. Já não dá vontade de lutar por esta causa perdida. As novas gerações distorceram o que o metal supostamente representava, portanto, ontem despedi-me deste tipo de concertos. Já não me identifico com nada do que vejo. Talvez tenha amadurecido, talvez esteja apenas a ser esquisito, não sei. A única coisa que sei é que não me sinto à vontade nestes ambientes que sempre foram o meu habitat.
Um fim de semana de despedida para o meu estilo favorito de música. Foi bom enquanto durou.
Fica aqui uma musica de Inverno Eterno. É uma grande banda...
2 comentários:
Essa música de Inverno Eterno é sublime.
Fases da vida meu caro! beijocas
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