sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ás vezes acordo e olho desconfiado os móveis que me rodeiam. Olho-os com aquele olhar tresloucado não só de quem acabou de acordar mas também de quem se questiona se eles ali se mantiveram enquanto eu estava ocupado a procurar tesouros filosóficos no etéreo mundo dos sonhos.
Os móveis não me respondem. Ficam exactamente no mesmo local. Impávidos, sem o menor sopro de vida a soprar deles. Penso que se olhar disfarçadamente para o lado e voltar bruscamente os olhos em direção a eles conseguirei ver um deles em plena fase de movimento. Ficará estático como quando se apanha um gato a fazer o que não deve. Como se obedecessem a uma espécie de controlo remoto e alguém tivesse carregado no botão de pausa.
Os meus móveis conspiram contra mim! Eu sei! Tenho a certeza. No seu aspecto acolhedor e abraçando os cds, livros, cadernos, maços de tabaco vazios que ficam por lá à espera que por milagre fiquem cheios novamente, eles conspiram entre si para me usurparem a mente.
Querem fazer-me uma lobotomia! Tomar conta de um mundo que existe apenas nas minhas visões claustrofóbicas. Quem dominará esse metafórico mundo? Talvez o móvel do computador com aquele aspecto arrogante e sempre desafiador para mim. Ou a cama? Hum, ela arranca-me cabelos de vez em quando e vem com a desculpa "ah e tal, sou uma cama velhinha, daquelas verdadeiras de madeira maçiça".
Talvez possa ser ela. Essa vagabunda. Faz algum sentido, pois assim que me deito nos seus braços transporta-me logo para o sono. Quer ver-me perdido em pensamentos sorumbáticos para estabelecer o plano para me destronar.
Analiso os meus adversários um a um lentamente, anotando mentalmente os seus pontos fortes e fracos.
O móvel da televisão parece-me ser o mais forte. A sua imponência disfarçada por aquele ar de quem abre as janelas do mundo de par em par. AHHHH Que Nonjo que me metes!!!!!!
Subitamente, o telemóvel solta o seu alarme do despertador. Está na hora de ir trabalhar.

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