Desde que me conheço- ora aqui está uma frase deveras estranha- sempre fui completamente viciado em música. A partir dos meus 18 anos, com o meu primeiro carro, comecei a percorrer o país de uma ponta à outra sempre que um concerto me despertasse a atenção.
Maluqueiras de fazer 600 quilómetros numa noite de semana com o trabalho à espera no dia a seguir, encabeçam a lista de estupidezes que fiz em prol de um concerto que - às vezes, até me defraudava as espectativas.
Volvidos quase 11 anos continuo com o mesmo espírito, ou será que já o sinto a esmorecer? Dessa passada década, todas as pessoas que me acompanhavam acabaram por desertar. Surge agora uma nova geração de amantes de música com o mesmo espírito de devoção total à musica. É com todo o orgulho que aceito todos os convites que me são endereçados por estes jovens que tanta música conheceram através de mim. É um imenso sinal de respeito, mas que me faz sentir velho. Falam da banda x e da banda y com uma devoção tremenda e eu digo sempre que já os vi no ano tal e lembro-me como se fosse ontem.
Entro nos recintos dos concertos e reconheço e sou reconhecido imediatamente pelos já poucos sobreviventes da minha faixa etária que como eu continuam a ir a todos os concertos possíveis. Por mais que uma pessoa mude de visual ou só tenha trocado meia duzia de palavras durante todos estes anos, a sensação de família está inerente. É como ter uma sede impossível de saciar e esta sede, é a sede de música.
Mas chega uma altura em que observámos que os valores que nos pertencem e que reconhecia-mos num estilo de música, neste caso em concreto, o metal, estão já muito díminuidos e ameaçam desfalecer a qualquer momento.
Sempre me regi pelos meus valores, quer achem certos ou errados e encontrei no metal esse mesmo espirito.
Actualmente o tão chamado underground do metal português é o meio mais elitista que poderá existir. O que sempre foi uma grande familia em que todos os parentes viviam em harmonia, tornou-se agora numa espécie de familia em que todos brigam por causa da herança. O elitismo e a divisão entre metaleiros de segunda e de primeira divisão foi algo que nunca pensei ver neste meio tão reduzido que ameaça suicidar-se.
Sempre renunciei todo o tipo de estereótipos e rótulos e já removi o rótulo que ainda por cima é a minha alcunha de sempre: Metaleiro.
Gosto de metal, mas actualmente não me considero um metaleiro, não por já não ter cabelo comprido ou vestir exclusivamente de preto, porque isso é um sub-estereotipo, mas apenas porque tudo o que me atraía, como por magia, desapareceu.
Escrevo este texto ao som duma das minhas bandas favoritas, Nargaroth. O primeiro sinal que tive que teria que separar as águas foi dado por esta banda. Grande música, mas como pessoas simplesmente abomináveis.
As obras de arte podem estar assim tão distantes dos seus criadores? Aparentemente sim...
Será que as pessoas que leêm o que escrevo e que reconhecem nos meus textos valor e capacidade artística pensarão o mesmo de mim?
2 comentários:
Acho que já te tinha dito… apesar de ter mudado de gostos de música ao longo da minha vida, também percorri Portugal de Norte a Sul para ver concertos de Punk e Hardcore… hoje em dia já não faço essas coisas talvez com o avançar da idade, com mudança de prioridades … aquela música deixou de ser o meu centro… Os medos, as responsabilidades, a vida em si!!! Enfim!
Tenho lido todos os teus textos e tenho gostado de te conhecer … sem te conhecer. A mudança é necessária à nossa evolução…. Não sei se lhe chamar crescer, amadurecer ou envelhecer…
Enviar um comentário