É uma luta viver com uma depressão...
Pior é quando ela reaparece sem razão aparente...
Existe a vantagem de já saber lidar com ela.
De ter passado por inúmeros tormentos devida a uma simples reacção química cerebral.
Da primeira vez, foi um ataque avassalador. Apanhou-me completamente desprevenido.
Agora, já sei os passos desta tenebrosa doença de côr. Antecipo todos os seus movimentos.
A dependência química, foi posta de lado assim como da primeira vez.
Durmo muito mal e com sonhos horripilantes quando me são concedidas umas tréguas. Aparentemente, parei de ressonar. Seria uma vitória se a quantidade de baixas não fosse mil vezes superior.
Desapareceu todo e qualquer sorriso que poderiam colorir o meu rosto. Carrego sempre olheiras profundas, que no trabalho, não fosse numa terrinha de uma pequena cidade chamada Penafiel, são conotadas com o "cliché" óbvio de drogado. O descuido com a minha aparência atingiu limites dantescos. O silêncio instalou-se de armas e bagagens. O turbilhão no meu cérebro atinge velocidades supersónicas. Num ápice, vou de me sentir mais pequeno de que um átomo, a sentir o ser supremo. Mas talvez isso seja a influência de Nietzchze... Mas, sentir-me o ser supremo é o expoente máximo da humanidade. Pena ser efémero este sentimento, como todos os outros.
Nunca me imaginei a olhar com superioridade para o resto da humanidade, mas sabe tão bem. Assumo o papel de um suposto deus que governa o vasto universo.
Talvez seja nos vértices da loucura que o Homem se transforma no seu maior receio. Nesses momentos, sinto-me mais vivo do que nunca.
Assumo tronos de divindades e lentamente assisto à minha descida para a realidade que o meu cérebro desenho nesse momento.
Fustigo o meu corpo com inúmeros flagelos físicos para me sentir cansado. Consigo uma forma física nunca vista para os meus 30 anos de "existência". Viciei-me em masturbação. O toque humano repugna-me quando tenho as minhas viagens siderais.
Perdi toda e qualquer noção do tempo que poderia existir. Chego atrasado ao trabalho, coisa inédita para mim. Tudo perde o seu valor, excepto esta batalha solitária contra o meu próprio cérebro. O verdadeiro triunfo: Quando se consegue vencer os seus medos. No seio quente desta revolução que eclode em mim, sinto-me realizado, embora apenas temporariamente, mas os breves instantes de supremacia, tornam-me mais forte do que nunca.
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