segunda-feira, 23 de maio de 2011

O culto aos suicidas.

Ultimamente tenho assistido a um aumento substancial de fans de Nirvana e de Joy Division. A única coisa que pensava terem em comum estas bandas é o facto de os vocalistas se terem suicidado. São de épocas e estilos completamente diferentes...
Afinal Kurt Cobain e Ian Curtis pertencem ao grupo de "pessoas demasiado puras para viverem neste mundo" conforme me foi dito numa conversa bastante recente que tive.
Ambas as bandas lançaram pouquíssimos álbuns. Sobre Joy Division não posso opinar grande coisa. Primeiro; não gosto particularmente do som deles. Segundo; quando Ian Curtis morreu eu ainda nem sequer tinha sido concebido. Em relação a Nirvana, foi uma banda que explodiu quando tinha 10 anos e acabou por ser uma das minhas bandas favoritas no início da adolescência. Quando Kurt Cobain morreu passou-me completamente ao lado. Tive pena por ser uma das bandas que marcou uma parte da minha vida mas nada mais do que isso.
Agora considerar Kurt Cobain e Ian Curtis pessoas puras acho que toca o extremo.
O suícidio é uma das principais causas de morte em todo o mundo e é consequência directa de uma doença. É uma doença terrível e, acreditem em mim quando afirmo, que as pessoas que tentam/executam o suicídio não tem a mínima noção do que estão a fazer. Estão num mundo completamente à parte.
Para uma sociedade que ainda olha com muito desdém para as doenças mentais, acho estranho glorificarem-se suicidas. Todos os dias muitas pessoas suicidam-se, mas são imediatamente considerados malucos. Mas se se é musico de uma banda famosa, ou escritor, pintor,artista de qualquer espécie, acaba por se fazer uma martirização enorme. Têm mais valor do que os restantes suicidas? Serão divindades postas na terra? Cada pessoa tem algum valor, por mínimo que seja. Esta descriminação irrita-me.

Outra descriminação que me irrita: Há tantos outros músicos que faleceram e que eram gigantes. Falo de Layne Staley dos Alice in Chains por exemplo. Ele não está na lista dos mártires humanos simplesmente porque a versão oficial da sua morte foi uma "mera overdose". Sim claro, um homem que sempre falou de suicídio nas suas letras, que nas ultimas entrevistas que deu considerava-se um falhado por não conseguir vencer o seu vício de heroína, cuja companheira morreu de overdose duas semanas antes da sua própria morte, e que foi encontrado com uma dosagem de droga suficiente para matar um elefante, obviamente que a sua morte não foi algo que ele tenha tentado. Simplesmente aconteceu.... Talvez se fosse oficial que se tenha suicidado, pertenceria ao grupo dos puros também e hoje haveria muitos putos a ouvirem Alice In Chains também em vez de ficarem parvos a olhar para mim quando estou a curtir a banda quando a passam nos bares.

Dentro do metal extremo, existe uma ainda maior divinização dos suicidas. São tantos os casos, mas só vou falar de dois. A enorme banda de black metal Mayhem teve um vocalista que se suicidou. Não gravou nenhum álbum e a única gravação que existe com esse vocalista, Dead como pseudónimo, é um concerto na Alemanha que foi editado a seguir à sua morte. A banda continuou e gravou o melhor álbum de sempre "De mysteries dom Sathanas" mas a maior parte das pessoas só gosta do álbum com o suicida por muito má qualidade sonora que tenha. A sua edição em vinil ronda preços absurdos. A banda ainda teve o bom gosto de lançar uma compilação com uma fotografia do cadáver. Refira-se que o homem suicidou-se com um tiro de caçadeira na cabeça, portanto imaginam o belo espectáculo que é a capa do álbum.
Outro mártir é Erik que tocou nalgumas das maiores bandas de black metal. É considerado um dos melhores bateristas de sempre, apesar das suas bandas terem continuado a gravar álbuns com bateristas 300 vezes melhores---
Nunca consegui perceber como, por exemplo, Chuck Shuldiner, dos maiores guitarristas de sempre não é tão famoso. Ah afinal percebo; ele não teve uma morte tão épica. Coitado, morreu "apenas" de cancro.

Concluindo; haverá certamente uma explicação psicológica para tal fenómeno. Mas eu tenho uma assim do senso comum; as pessoas são mórbidas, só não o admitem. É só ver a quantidade de famílias que vão a correr ver um acidente de viação...

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