Musicas ocas de conteudo bombardeiam os meus timpanos enquanto transeuntes de fins de semana esforçam-se por manter um sorriso falso colado aos seus lábios.
Estou embriagado pela sobriedade. Desta vez a entrada para um local diferente parece estar mais distante, como se eu tivesse perdido a chave da porta.
É uma boa ocasião para observar atentamente todas as pessoas que me rodeiam e com quem eu converso em silêncio.
Todos esforçam-se por simular um ar de felicidade e de ter conversas repletas de conteudo. As suas vestimentas domingueiras parecem exalar sinais de superficial bem estar.
Alguns olhares cruzam-se com o meu. Alguns demoram-se mais do que aquela fracção de segundo necessária para estabelecer um reconhecimento.Como se estivessem a avaliar a minha pessoa que aspira vagarosamente o fumo de mais um cigarro.
Que ideias formularão os seus cérebros sobre mim?
"Quem será aquele homem com vastas olheiras e cabelo todo desgrenhado?"
"Estará ele à espera de alguém? Mulher não será certamente. Olhar para ele mete dó."
Não me interessa. Estou refugiado no meu anonimato. Como se tivesse um escudo invisível à minha volta que estilhaça as ideias pré-definidas sobre mim.
A minha visão foca-se em quadros vagos de sentido, adquiridos em uma qualquer loja dos 300. O objectivo será colorir as paredes negras do fumo do tabaco.
Pseudo-intelectuais pavoneiam-se com o jornal debaixo do braço para aceitarem as ideias escritas por outros e com uma artimanha qualquer transformarem-nas em suas.
Gostava de ser jornalista de um jornal. Os poucos que os leêm encaram as palavras impressas neles com mais seriedade do que a bíblia.Como se o facto de um qualquer menino rico que tenha o papá como director de um jornal e um curso de jornalismo completado ao fim de quase uma década fosse um messias. O que a televisão e os jornais dizem são verdades absolutas. "Atenção! Não podes contestar isto porque li isso no JN e vi uma reportagem na Sic. Isto é a mais pura verdade!"
Trabalhei algum tempo numa empresa que dirigia o jornal da minha terra. Assisti a todas as intrigas e jogos de poder presentes numa pequena publicação. Multiplico isso por alguns milhares e imagino o que serão as redacções de jornais e televisões nacionais.
Apesar de não curso superior algum, tenho bem presentes as regras do jornalismo. Ou melhor Pseudo- regras. Ética profissional é algo que não se aplica a qualquer profissão pela qual tenha passado e já foram várias. O jornalismo não será a excepção. É o velho e eterno "Façam o que eu digo e não o que eu faço."
Qual será a profissão ideal para mim? Talvez musico. Mas só se fosse numa banda em que os restantes membros fossem as minhas restantes personalidades. Pelo menos, por muito conflito que podesse existir um entendimento chegaria sempre. Todos os projectos musicais em que me envolvi extinguiram-se com a mesma rapidez com que foram ateados. Estou cansado de ser moderador de debates sem nexo entre personalidades díspares que tem sempre como desfecho o término de muitas horas de dedicação e paixão inquantifícaveis da minha parte.
Por isso é que gosto de escrever. Não tenho que agradar a ninguém, nem a mim próprio. Saem as palavras da forma mais natural do mundo. Mas a nível profissional, nem pensar. Eu não tenho um papel que diz que frequentei uma universidade xpto. Limitar-me-ei a escrever para mim próprio e para quem me quiser ler. Pelo menos isso posso fazer sózinho. O resto estou sempre dependente de outras pessoas e eu não acredito em ninguém. Nem que aparecesse a minha alma gémea agora à minha frente mereceria a minha confiança.
2 comentários:
escreves o verdadeiro que ha em ti. identifiquei-me muito com a frase "Todos esforçam-se por simular um ar de felicidade e de ter conversas repletas de conteudo. As suas vestimentas domingueiras parecem exalar sinais de superficial bem estar"...é só aparencia. Tambem eu uso a minha vestimenta de domingo mas por dentro, muitas vezes não me sinto tão apresentavel como o meu exterior.Só quero que os outros acreditem e que não vejam o lado escuro que se esconde dentro de mim como nas palavras referidas quando escrevo. A pura verdade do desabafo está aqui, nas palavras e pouco conseguem achar a essencia delas.
Acho que já era altura de escreveres um romance. Assim um todo inconvencional. As descrições que fazes são muito boas. Pensa nisso.
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