quinta-feira, 13 de maio de 2010


Moras no quarto andar do prédio das recordações. Da tua janela, tens uma vista privilegiada sobre o cemitério dos pensamentos. A cor luzidia e marmórea das suas sepulturas é uma contradição do que jaz sob elas.
Todos os dias assistes a novos funerais.
Assistes a tudo com um misto de serenidade e tristeza batalhando entre si sobre o domínio da expressão do teu rosto.
Conheces cada um dos cadáveres que são depositados na sua morada póstuma. Com eles comungaste da existência.

Absorves o silêncio produzido pelas fábricas que moram mesmo ao lado do cemitério. Perturbam com um ligeiro ruído maquinal a paz do vago ambiente que está lá fora.
Sabe-te bem este silêncio! É sinal de que lá fora existe vida. e que tudo é manufacturado por mãos humanas. Tudo, mesmo os pensamentos que descansam em paz e que consegues observar da tua janela.

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