quarta-feira, 14 de abril de 2010

Na névoa, ela estava expectante.
Com os olhos fixos na imensidão das estrelas.
Aspirando suavemente o seu cigarro de recordações, expelindo-as do seu interior agora sob a forma de mero fumo.
Ela lá estava com os braços nocturnos envolvendo-a. A sua silhueta recortada entre monumentos a efémeros sentimentos cintila para além da extra-terrestre decadência.
Hordes caóticas de desassossegos estremecem perante tamanha beleza.

Eu observo, extasiado, esse ser esculpido numa noite de eclipses lunares com o enorme desejo transformado em receio de tocar-lhe. Como se o meu toque fosse capaz de hecatombes e destruísse o que de mais belo poderiam os parágonos da beleza outrora conjunturar em delírios colectivos.

Ela ignora na sua inocência todos estes devaneios poéticos que correm nas minhas veias despoletadas por apenas um olhar.
A chapada sonora da realidade violenta todos os meus sentidos.
Sou indigno dela. Não porque a conseguisse fazer feliz a meu lado,qual deusa eterna aclamada e venerada pelas legiões de infiéis de eus, mas, apenas, porque eu poderia ficar contagiado por tamanha realização dela e de algum modo isso transferir-se para mim. Só que teria apenas a duração de um piscar de olhos...

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