quarta-feira, 8 de junho de 2011

Filme do desassossego eterno.

Após vários meses e tentativas frustradas de ver a adaptação cinematográfica do fantástico "Livro do desassossego" de Pessoa porque "o filme não poderia ser exibido em salas de cinema convencionais nos centros comerciais junto ás pipocas e coca colas porque Pessoa merece todo um culto à volta da sua obra." (João Botelho, realizador do filme) dificultando imenso a vida ás pessoas que ainda tentam fazer alguma coisa pela cultura nacional, somos confrontados com a sua edição em Dvd que podemos adquirir junto com o jornal Correio da Manhã que é, sem dúvida alguma, o ícone português da cultura.
João Botelho e Produtora Ar de filmes: Porque dificultaram tanto o acesso à visualização do filme? Estavam com medo de críticas de quem leu o livro?
Não querendo estereotipar, mas o público alvo do Correio da Manhã não me parece que sequer tenha ouvido falar d`"O livro do desassossego" quanto mais do seu filme. E talvez o nome Fernando Pessoa diga qualquer coisa já que Bernardo Soares talvez seja confundido com o nome de um político qualquer.
Já que Pessoa é tão underground e tão selecto, roça o insultuoso as suas palavras co-habitarem com as das "notícias" do dito "Jornal".

Pessoa saiu da sua sepultura e dedicou-vos isto:

"Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,

Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!"

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