quarta-feira, 24 de março de 2010

Sou viúvo das certezas.
Carrego luto pelas crenças.
No funeral da existência, atirei pedras para o caixão em vez da rotineira terra.
Enquanto tristezas trajadas com fatos de gala baixavam o corpo inexistente da existência, ria-me descontroladamente ao ver qual o sentido da vida a que tantos filósofos dedicaram séculos de paixão suprimindo qualquer réstia de outro tipo de sentimentos que assolavam os seus espíritos.

Vestes de cores garridas simbolizam o pesar pela gigantesca perda de nada.
rios de vinho correm nas gargantas nos festejos dos renegados e oprimidos pelo que agora apodrece e é devorado pelos vermes plenamente convictos das suas existências. Só eles sabem o porquê de existirem.

O luto estende-se até aos verdes campos ondulantes, sibilantes e desafiantes.
correm neles vestígios de debandadas anárquicas de luxuriosos pensamentos sobre a vida. O orgasmo supremo ocorrerá com as vestes de luto colorido bem no meio de multidões enraivecidas por não o atingirem.
As pedras usadas para violentar a urna da existência serão arremessadas contra mim e cada golpear desencadeará êxtases catárcicos de profundas ejaculações sobre tudo o que de sentido carece.
Certas alegorias tem apenas um sentido: o de não o terem...

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